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Não sei se alguma vez lhe contei o que observo em determinados escritos. Às vezes escrevemos muito a nosso respeito, mas do que pensamos, de um modo bem subjetivo. Seu livro está ficando ótimo. Claro que digo isto sem intenção de criticar. Não há espaço para críticas em nada que você escreve. "Os pensamentos de certos homens, mesmo os mais sombrios, dispensam comentários. Então eu só ouço..." - ou leio. É admirável o quanto você é verdadeiro - ou habilidoso em disfarçar o que sente. Será que existe um modo de cauterizar uma ferida aberta por um sentimento não correspondido? Você acredita que a indiferença é a resposta? Eu só tenho dúvidas. Quando escrevemos registramos derrotas e vitórias e revisamos nossas atitudes. Revemos nossos conceitos e valores. A cada ano, perco minhas certezas... decidi seguir um provérbio oriental: "Não há que ser rígido, antes seja flexível" Vou deixar tudo em aberto. "Talvez viver seja simplesmente isso, viver..." Eu queria escrever mais algumas coisas, mas farei isto numa ocasião e local apropriados. LOPES - um amigo

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Série: Em Algum Lugar do Passado - Sombras


            Sombras que deveriam ser brumas me assustam, principalmente, quando chego perto das pessoas...
Essa angustia. Essa vontade de não ser. A vida resumida a momentos sozinho e desespero por e-mails não recebidos. Não compreendo muito bem a verdade das coisas. Não compreendo, nem de longe, o que vem a ser.
Você olhou pra mim como se não estivesse feliz e eu comecei a entender um pouco porque as pessoas suicidam. Todas as paredes da cidade me pareciam altas demais mesmo que estivessem em meus pés. Algumas coisas se explicam e não se fazem entender...
Certas vezes a certeza inunda de claridade a visão de quem as tem. Certas vezes a claridade dura somente tempo bastante para se certificar que a derrota é eminente ou que a vitória será difícil.

Durante alguns instantes me faltaram palavras que poderiam ser descritas em frases cheias ou sem nenhum sentido. Eu fiquei sem escrever... e no que tange minha consciência acho que nunca fui tão sozinho.
As palavras me acusam sem que eu possa, nem ao menos, proteger-me de seus sentidos múltiplos, seja empregada pelos homens, seja pela minha incredulidade punitiva.

As coisas estão se configurando diferentemente do que faziam a algum tempo. Pela primeira vez eu tenho medo da vida. Pela primeira vez algo começa a me fazer realmente falta. E é estranho não saber o que é ou o que fazer... Não me configuro entre meus sonhos em filmes de guerra ou mesmo nos versos das minhas canções de amor (Apud, HG).

Me entorpece acordar com a fragrância de rosas frescas. Com o tempo comecei a sentir que seu cheiro purificava minhas narinas empreguinadas de nicotina. Noites passadas sem conseguir dormir. Entre bares e cavernas podia reviver meus tempos débeis de irracionalidade. Tempo em que eu podia fugir das verdades e dos amores.
É límpida a noção de que não consigo lhe esquecer, e me enlouquece a perpétua verdade de que não posso lhe ter por perto.


Storto... Agosto de 2004

terça-feira, 12 de abril de 2011

Carta A LOPES - Parte 2

Caro Leafar,


Parece a mim possível viver sem arte alguma. Não poderia ser evitado, obviamente, o amargor do olhar vazio que chega ao fundo da alma. Tudo cinza. Como uma foice no deserto. Nada a colher. Melhor mesmo é partilhar a esquisitice com os baudelaires da vida.


Não se cobre tanto. Há pouco tempo fiquei elucubrando minha postura e descobri que tornou-se piegas ser algoz de si próprio. Vou deixando os dias passando como numa nouvelle vague, mas sem transgredir tanto.


No vórtice de minha insanidade cobrei minhas grandes realizações. Elas não vieram ainda. Supliquei mais participação no universo dos outros, mas mesmo o mais nobre sentimento é circunstanciado. Vou beirando os trinta com o mesmo sarcasmo de sempre, que ao invés de minar minha energia, torna-me um senhor mais tolerante. Será que é regra para todos aquele lance de plantar uma árvore, procriar e escrever um livro? No ritmo cadenciado que estou, vou ter que usar a polpa da bendita árvore para fazer o tal livro. A parte de "crescei-vos e multiplicai-vos" eu prefiro adiar. Talvez um dia eu faça um download em alguma.


Deus ou qualquer outro ser imaginário nos dê força para trilhar nossa rotina pouco ensaiada. 


Vou fingir que tudo é incerto para ser fiel ao expressar meu contentamento diante das surpresas.


Abraços do amigo,




Lopes

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Carta A LOPES - Parte 1

A LOPES

Meu caro amigo,

Peço-lhe desculpa pelo tempo na obscuridade da distancia. Pela atenção não dispensada. Por todas as penas imputadas ao desconhecimento de meu paradeiro. Sinto-me torpe frente à feliz presença de sua lembrança, ou até mesmo pelo sonho desse pensamento.

Tenho percebido, ainda que à distância de minha necessidade de verdade, que não caibo em mim, de tanta insatisfação. Tenho pouco de tudo, e de muitas coisas tenho nada. Às vezes é apenas no limiar da jornada que conseguimos perceber que nada fizemos, ou o quão pouco caminhamos. Ando descobrindo que sou tosco nas coisas que faço ou exijo muito de mim? Não tenho sabedoria para perguntas tão tolas. ...e quanto isso dói...
Procurei nas menores coisas e tive a impressão de nada ver. Procurei nas grandes e apenas vultos borravam o horizonte. Alguns destinados a grandes coisas que para mim parecem tão pouco. E talvez aqui destinados a coisas tão pequenas, para alguns tamanhas, eu e todos? Tudo parece tão simples e tão sóbrio. Vejo com tanta clareza o fim da fome, da miséria e do terror. Então o que está tão errado?
Dispenso muito do meu tempo às pessoas. Sejam desse plano ou do outro. Pinto minha vida com os tons dos grandes mestres. Seja minha percepção triunfada pela música, pela pintura, pela poesia, pelo cinema, pelo espetáculo... é tudo uma questão de sensibilidade. Verdade é que esses caracteres a definir tornam a vida mais bela.

Seriamos melhores sem o céu de Monet? Sem a poesia de Beethoven? Sem as pinturas de Kubrick? Sem as certezas de Drummond? Sem a sanidade de Raul? Sem os textos juvenis de Freud? Ou talvez isso tudo seja placebo para uma sociedade tão pueril...

Mas poderia ser como Plant profetizou, “para sermos rocha e não rolarmos”...

Do Amigo

STORTO...