Quem sou eu

Minha foto
Não sei se alguma vez lhe contei o que observo em determinados escritos. Às vezes escrevemos muito a nosso respeito, mas do que pensamos, de um modo bem subjetivo. Seu livro está ficando ótimo. Claro que digo isto sem intenção de criticar. Não há espaço para críticas em nada que você escreve. "Os pensamentos de certos homens, mesmo os mais sombrios, dispensam comentários. Então eu só ouço..." - ou leio. É admirável o quanto você é verdadeiro - ou habilidoso em disfarçar o que sente. Será que existe um modo de cauterizar uma ferida aberta por um sentimento não correspondido? Você acredita que a indiferença é a resposta? Eu só tenho dúvidas. Quando escrevemos registramos derrotas e vitórias e revisamos nossas atitudes. Revemos nossos conceitos e valores. A cada ano, perco minhas certezas... decidi seguir um provérbio oriental: "Não há que ser rígido, antes seja flexível" Vou deixar tudo em aberto. "Talvez viver seja simplesmente isso, viver..." Eu queria escrever mais algumas coisas, mas farei isto numa ocasião e local apropriados. LOPES - um amigo

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Devaneios no século passado



Tenho pensado muito comigo mesmo, e parece que acabamos tendo a noção mais exata do fardo que carregamos.
Não estou falando da análise física da vida, mas me acho tão distante da sabedoria que até acredito que o fardo nada pesa, o problema é que não sei a força que tenho.
Tenho aprendido as lições de tolerância de forma desagradável. E mesmo com todas as possibilidades desse texto parecer com auto-ajuda, vou errar cem por cento.
“Goticamente me perdi nos becos escuros da Viena do século XVIII. Sujo, frio. Lembranças de um futuro que não sei se vive vêem à mente como vultos. Parece praia das highlands de uma vida mais próxima. Volto à realidade com um solavanco de uma guarda de capa azul, bem escura, próxima a altura dos cotovelos e capacete coco. Vejo-me torpe, tremulo. Caminho às vezes sem rumo, às vezes sem força. As imagens continuam vindo a mente como em bombardeio incessante. Caio. Contemplo bêbados e prostitutas a passar pela minha frente. Tão sujos ou piores que eu. À distância uma meretriz contrai mais uma doença. Alguns ratos banqueteiam à beira da porta da estalagem. Parece festa! Vejo luz e me levanto. Ando como a quem anseia por justiça de si mesmo. Bem suave contemplo aquele som inaudível anteriormente e tento decifrá-lo, por longos trinta anos...”
Mesmo que o resultado da criação de nossa juventude não seja um conto vienense regado á 9º de Beethoven, temos prenúncios de que para muitos a luz do salão de concerto nunca virá. Seja pela ignorância latente a vida toda. Seja pelo desprezo pelo próprio ser.

Storto... 19-09-2011

Série Inacabados - O Tempo (ou como as coisas parecem)




“Nunca procurei muitas explicações, apesar parecer justamente o contrário.”
O tempo sempre foi assim.
Estava me lembrando de quando comecei tudo isso aqui... um vazio...
Hoje pensei coisas para as quais não me dava há muito tempo, e no instante que tange o erro de uma vida senti um arrependimento enorme de tudo aquilo. Sempre tão pálida a sensação do erro...
Tento não olhar para o espelho com medo dessa idéia do pertencimento. Mas mesmo acreditando que não tenho o direito, permitirei o erro. Afinal, quem terá o privilégio de amargar, a conta gotas, a derrocada no fim da vida?
Essa dor que me acompanha desde os cinco estava naquele dia lá em casa, lembra? Uma aventura, um vestido e um fim de semana. Quanta coisa pode acontecer na vida sem que percebamos as minúcias das verdades, das responsabilidades.
Tento não me imaginar. Nem para bem. Nem para o mau. Mas as cores do vestido...

Storto... 11-09-2011

A Litle Help From My Friend (Ou A experiência de uma música vivida)

Harramat Ben Alli



Uma dúvida aterradora.
Viveremos toda a nossa vida sem entender nossos sentimentos?
Muitos são os pensamentos que percorrem o proceder de uma mente sem destino definido. tentei durante muito tempo não admitir que não sabia exatamente o que fazia com minha vida, com meus sentimentos, minha feições. e mesmo que nossas convicções não possam ser vividas eternamente sem um teste intermediário para o erro, eu tentei.
Tentei porque parecia ser o mais fácil a ser feito. Tentei porque sempre foi o mais encorajador a ser feito. Tentei porque... no fim do dia, sempre tentamos não nos machucar... sempre.
Admitir que não somos muito diante das maravilhas do universo é fácil, ou pelo menos parece. Mas só parece, afinal de contas, depois dos universos, das galáxias, dos sóis, dos planetas, das espécies e dos milhões nós, quem sou eu é a única pergunta que sobra.
O Motivo
Vinha eu pela rua, dentro de minha vida segura, dirigindo como sempre acontece nas quintas a tarde.
Um árabe, perdido, que só falava inglês (e árabe), e uma pronuncia muito difícil de roo..oo...(doviária). A procura do irmão, que não mora na minha cidade, e uma felicidade enorme por perceber, que mesmo através de uma tradução duvidosa, eu conseguia me comunicar com ele.
O Desenrolar
Eu não podia ficar parado. Fui e voltei na tentativa de achar uma solução. Não para ele, mas para mim. Eu era um daqueles indivíduos entre os seis bilhões com uma ótima possibilidade. Todos os meus tornaram-se para a obrigatoriedade de ajudá-lo, e não gostei de tê-lo deixado ao relento em sua noite como meu amigo. Em conversa com ele percebi que muito do que se passa na mente humana pode ser encoberto por sonhos, medos... Ele repetia constantemente: “eu preciso encontrar meu irmão”. E quem não precisa? Mesmo que não seja um de sangue. Essa era sua jornada, a minha era, talvez, menos penosa.
O Prólogo
Nem todas as histórias tem final feliz. Me lembro de brigar com o gerente do cinema da minha cidade por ocasião do lançamento de um filme que não tinha um fim exato. Eu dizia para ele: ˜esse filme é uma porcaria. Sem fim o filme não tem graça alguma”. Hoje acredito ser um ótimo filme (é que leva um certo tempo para apreciarmos o que não nos agrada).
A passagem de Harramat Ben Alli vai ficar assim. Sem agradar porque não teve fim. Conseguimos a passagem e a essa hora ele já embarcou. Me disse quando me despedi: “eu vou encontrar meu irmão. Ele vai ligar para você!”. Acho que vinte e quatro horas após conhece-lo sou menos de mim. Sou menos do que a humanidade pode fazer. 
A platina nas pernas e no nariz hão de esfriar como metal ao vento. E esquecer não é uma possibilidade. Tenho certeza que o que consegui para ele não fará a menor diferença com o passar do tempo, para mim ou para ele. Dinheiro, roupas, alimento. Nada disso adormece os tristes momentos que guarda em seu coração, e que em noites escuras, tornaram a mente com mais uma garrafa de cachaça. 
Psico
O tempo vai levar muitas dessas sensações. E não sei como poderei encarar isso daqui a algum tempo.
Ficou a impressão de como somos pequenos no mundo, mas do quanto podemos tentar a  diferença. 
Algumas frases que soavam como bordão de poeta “b” foram resignificadas. Ele me perguntou se eu era cristão, porque tinha me visto com a roupa da maçonaria. Nada mais que um erro comum. E como já versávamos sobre religião (o que soa um pouco clichê, entre um cristão e um muçulmano), eu disse a ele que embora fosse espiritista, acreditava e respeitava todas as crenças. Ele distante disso, disse: “Todos cremos em um só Deus. Apenas trocamos Seu nome”.
O Início do Fim
Um amigo meu lhe perguntou sobre sua família, e nessa hora vi um homem de traços já tão tristes pelo que a vida lhe citava, ficar um pouco pior. Ele perdera os pais e a esposa na guerra. Não tivemos tempo de falar sobre filhos, porque a essa altura minha garganta não conseguia nem lhe pedir desculpas por tão penosa lembrança. De alguma forma ele entendeu que eu também não tinha meus pais, o que não é verdade. E agora ele é que me pedia desculpas pelo que a vida havia me feito. Não tive tempo de desmentir.
Segurando em minha mão ele rezou por três vezes para que Ala me proteja, assim como ele o faz três vezes ao dia, direcionado à Meca. Fiquei imaginando como cenas de terror tão vorazes não destroem o coração daquela gente. Daquele homem.
Cheguei em casa pensando sobre como sou abençoado por tudo o que tive na vida. Uma família maior e melhor do que mereço. Amigos que soam como música para o coração desse trovador. Sublimação.
Ainda sem saber se conseguirei entender meus sentimentos rezo por ele.
Allahu al-Akbar pra você meu irmão!

Espero ser digno. 

Storto... 11-09-2011

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Expectativas






Existe possibilidade de nossas satisfações serem maiores que nossas expectativas?
Mesmo sem nossas expectativas serem atendidas?
Mesmo sem isso?
Mesmo assim?
Será que será sempre assim, frio e distante?
Mesmo parecendo tão perto?
Tão belo e distante?
Tão nós?
Somos tão firmes e sós que só contemplamos nós mesmos?
Seria tão triste sermos assim, ou seríamos assim e felizes?
Será que isso funciona?
Assim tão distante?
Minhas somas ainda asseiam por sopros da felicidade?
Ou seriam o som do trovão ecoados pelo fim dos tempos?
Ainda acredito nisso tudo?
Eu acho que sim... será?

Xavier
No dia primeiro do mês de setembro do ano de Nosso Senhor.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Devastação da Alma (ou Como as Pinturas de Goya)


A estrada estava escura. Eram cinco da manhã. O vento estava forte. Cinzas caíam como chuva, e já não sabíamos quando veríamos o sol novamente. Alguns pinheiros que pareciam arrancados pela raiz atrapalhavam a caminhada. Tudo era muito árido. A esquerda da estrada via-se uma cerca. Dentro uma velha arvore que poderia nos contar a existência de dias mais felizes por esses caminhos, mas com suas folhas escrevia apenas velhas concepções que já não serviam mais.
Longe vimos um lago raso. A planície morta poderia ser vista pelos filmes de guerra do século XX, e ruínas, muitas ruínas.
Diziam ser a tristeza que não existia em tempos de glória. Quando tudo era a presença de trigal e margaridas. Na velha arvore havia um balanço para as crianças e o caminho percorrido por famílias contentes na presença dos seus.
Hoje habitam seres do submundo. Criaturas perdidas pelo tempo na cultura nórdica. As ruínas remontam construções imponentes, que já não brilham mais nem no sonho dos que por ali passaram.
Entramos na maior delas. Portas reforçadas foram arrancadas com muita dificuldade. Algumas bacias viradas. A mesa quebrada. Buracos no telhado de madeira e a inquietação estranha de estarmos sendo observados.
Continuamos entrando e um pálido raio nos chamou a atenção no fim do corredor. Piscando... piscando...
Ao aproximarmos vimos uma flor, que brilhava suspensa no ar. Irradiando seu parco brilho incessantemente. Percebemos que se tratava da presença cardíaca de todos que por ali passaram, e indistintamente deixaram um pedacinho de si, para todos.
Sem que percebêssemos, fomos tragados. Minha garganta amargava. Meus olhos turvaram. Senti as pernas estremecerem e o chão me faltou aos pés. Arrastei-me para sair dali sem entender por onde aquelas almas passariam em seu caminho de volta.
Algumas lendas rezam que foram aprisionados pelos exércitos da indiferença e da solidão em guerras atrozes, frias e escuras. Um velho cego, a beira da estrada, com uma cuia de esmolas, falava repetidamente: “O problema é seu! O problema é seu!”. Dizem ter conseguido escapar de lá em um momento de sentimentalismo involuntário, e que seu atual estado se deu pelo conflito da permanência ou não, dentro da flor.

Algum tempo depois li em um livro, envelhecido pelos anos, que isso jamais acabaria. Lugares assim são o resultado das pessoas que ali vivem, e por isso mesmo podem acontecer em qualquer mente. O livro também continha um encantamento que, se repetido diariamente, quebraria a maldição: “Jamais esqueças: Nunca viveremos sós!”


Lord Leafar 506 a.c.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Caminhando para o Amor


“O amor é filme...
Eu sei pelo cheiro de menta e pipoca que dá quando a gente ama.
Eu sei por que eu sei muito bem como a cor da manhã fica...”
Cordel do Fogo Encantado

A Percepção

Da minha janela vejo paisagens diferentes. Que se modificam com a certeza de que o mundo pode ser mais e feliz. É nisso que penso toda vez que olho longe... esperando você chegar.
Fico imaginando o que sinto. Em uma comunhão de sentimentos que são tão complexos quanto nossa própria relação. Hoje mais serena. Mais feliz.

A Epígrafe

Ontem fiquei em casa me lembrando de linhas mau traçadas por mãos que ainda não conheciam alguns aprendizados da vida. Quando só nos lembrávamos de idas e vindas para a escola e das quedas de bicicleta. Quando jogávamos vôlei na rua de casa, ou esperávamos chuva de estrelas cadentes.

O Início

Em algum momento da estrada nossos caminhos turvados pelo mundo foram dispersos. Em algum momento fomos tragados por certas certezas que de certo ficaram para trás. Em algum momento a vida liquefez com palidez a presença de nossas faces... e fomos distantes.
Tempos estranhos.
Tinha uma vaga lembrança do que eu era, e uma ainda mais distante do que poderia ser. Vivi coisas que jamais imaginaria e algumas que ainda não acredito...

Nos encontramos em situação evidentemente normal, e parecíamos agora como antes. Mas não como antes. Éramos agora eu e você. Como a água e o óleo que não se misturam, mas não se separam. Continuam ali, juntos pela ação da gravidade. Eternos confluentes. Eternamente lado a lado.
Brotamos à presença do orvalho. E fomos vivos novamente. Felizes, altivos e alegres!
Tivemos nossas rusgas quase sempre pela desesperança de nossas próprias convicções, ou pela extrapolação delas próprias. E mesmo à distância, nos tragamos, nos atraímos e amamo-nos distantes.

O Fim

Não há. Seremos como filmes de arte. Jamais entendidos pelos que querem fáceis explicações para a vida. Para os que pretendem apenas dar risada das paradas, sem apreciar a viagem. Seremos a beleza dos fins de tarde avermelhados ao som de acordes em guitarras blues. A serenidade das manhãs de domingo na perfeição de um sol esplendoroso. A certeza da felicidade no sorriso das crianças e a fé no olhar da caridade. As aventuras de beira de estrada em campos floridos e a responsabilidades que sempre nos empregamos.
Felizes assim por termos um ao outro, como sempre tivemos, quando percebermos estaremos sentados à beira do lago, descalços, ombro a ombro, contemplando o entardecer enquanto a cena escurece e os créditos sobem.

Para minha Amada Imortal,

STORTO... 12-07-11

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Um jeito novo (thought on The Wasp, in Morrison's voice)


Em dias assim quando o cinza predomina
A morte é palpável. “Estamos morrendo, menina!”
Não precisa chorar. Só precisa entender que é nossa sina.
Até o momento não estamos nos entendendo. “Termina?”

Uma segunda tentativa não vai nos machucar [Ou vai?]
Qual a melhor razão para se afastar? [Você me trai]
Com angústias e provocações. Disputas, sermões.
Te devolvo a paz sem palavrões. Domínio total das emoções.

Nunca choro em finais, o que não significa que não choro jamais.
Sentado na grama vejo fotos de lagos congelados nos jornais locais.
Aprisiono as principais imagens de nosso passado num muro
E recupero o fôlego para ao levantar distinguir o passado do futuro.

LOPES - 26-06-11

Sala 102 - Uma pequena homenagem a Kafka




“Dois e dois são quatro. Quatro mais quatro são oito. Oito mais oito... oito... mais...”
“Deeee-zzzzeees...”
“Dezesseis!!! Dezesseis!!!”
“Muito bem! Parabéns, meu querido! Merece um beijo!”
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Minhas memórias da infância são idéias fixas, doutor. Não me incomodam nem despertam saudades. Apenas insistem em não serem esquecidas. Não constituem nenhum trauma. São persistentes e sem consistência. O que me irrita mesmo é exatamente isto: Não significam nada! Só me lembro destas besteiras: apago velas de bolos confeitados, brinco com minha bicicleta muito sorridente, passeios aos domingos... O estudo da minha infância é inútil para determinar a causa do meu medo.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Vamos com calma.Pode deixar os diagnósticos comigo. Chegamos a sua ducentésima septuagésima sexta consulta. Quanto ao que é importante... Isto eu decido.
“Eu sei o que você sente, Sr. Samsa. Qualquer leigo que tivesse tempo para te observar por dois minutos perceberia. Sua face traz o retrato da depressão. E a da pior estirpe. A que não finda e permite que o indivíduo sobreviva. Pior, que venha a mim, semana após semana... Por anos... Dezesseis longos, looongos anos”.
Contam-se catorze segundos de incômodo silêncio.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Você já teve namorada?
<!--[if !supportLists]-->-     <!--[endif]-->Minha história particular não se enquadra nesta consulta, Sr. Samsa.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Eu sei, doutor. Mas eu não consigo me sentir a vontade falando da minha vida com um boneco que nem se parece com um ser humano.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Como eu sou, Sr. Samsa?
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Hã?!?
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Descreva-me.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Você é feito de plástico e tem olhos verdes. Olhos de vidro, creio. Pouco cabelo, mas muito bem alinhado. Nariz afilado como deve ter um aristocrata inglês. Suas mãos longas, cheias de dedos finos e macios possuem uma postura perscrutadora. Como se estivessem sempre dispostas executar um noturno. Sem piano.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->É assim que eu sou, Sr. Samsa?
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Isto é você.
“Delírio, devaneio, divino. Estranho, toda vez que as consultas caem no óbvio eu fico brincando com aliterações... Samsa abre a boca e sua voz atrasa meu relógio segundo após segundo. Dependendo dele nunca sairemos dessa sala. O maldito persiste como um inseto. Repugnante como uma barata!”.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Até as baratas morrem. Milhões de anos evoluindo. A carapaça mais forte e maleável, algumas voam, mesmo assim morrem. Uma sandália descomplica tudo.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Isto é terrível. – suspende as pernas e põe os pés na poltrona. Abraça-as e apoia o queixo nos joelhos. – conte mais.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->As baratas podem viver algum tempo sem a cabeça. São dotadas de sistemas nervosos independentes – encara Gregor – o nosso sistema nervoso é centralizado, difer...
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->OK! Eu entendi esta parte – interrompe.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Elas só morrem quando a cabeça é decepada devido à fome. Sem a cabeça não há como ingerir os alimentos.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Isto é lógico.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Fora isso, temos a figura da barata sem cabeça rondando a cozinha, resistindo e sobrevivendo o quanto pode. Um ser irracional banalizando a existência. Sem quaisquer chances de êxito. Morrerá certamente, mas constrange o mundo com sua agonia. Causando repugnância a quem tem o desprazer de observá-la.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->A natureza tenta encontrar um meio.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Mas ela morre.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Três sistemas nervosos, o Dr. disse. Parece que não teria como morrer.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Viu? Para morrer-se, sempre dá-se um jeito.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Eu queria entender o fundamento disto.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Todo esse devaneio só tinha como objetivo aclarar sua mente para um fato indubitável e que por mais que hesitemos, o senhor tem que reconhecer.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->O que?
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Você não tem talento para existir, Sr. Samsa.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Existir requer talento?
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Para qualquer ser humano saudável é reconhecível o indivíduo que nem atrapalha nem contribui para preservação da espécie. São piores que os párias. Passam a existência em branco. Nada criam, nada corrompem e a nada reagem. Nada são! Um total desperdício de DNA! O Sr. compreende, Sr. Samsa?
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->O senhor está diferente doutor – ri sem graça – falei algo que te aborreceu?
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Eu tenho uma pílula em cada mão. Uma vermelha e uma azul, Sr. Samsa. E você fará uma maldita escolha hoje. O mundo não se importa com suas queixas vazias. Sua insatisfação perene. Essa podridão imutável de idéias deformadas!!! A vermelha livrará o mundo de sua repugnância e a azul o fará mudar de atitude. Escolha uma pílula SR. SAMSA!!!
“Hum... Ele escolheu a azul. Peculiar. Apostaria na vermelha. Ambas as cápsulas continham veneno de rato, mas... azul? O Sr. me surpreendeu afinal Sr, Samsa. Pena. Tantas oportunidades...”.
Convulsões e sangue no carpete. Ninguém sentirá falta deste paciente. Apenas os piolhos choram o banquete findo. Doutor Fritz vai até o café do outro lado do Edifício Tereza Arruda. Pede um expresso por estar sem criatividade e sorri. 

LOPES - 26-06-11

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Uns dias assim

 
Estou tão estranho,
Pareço não estar vivendo,
Parecem passar por mim e não posso ver, pegar, sentir...
Sinto ser passageiro de minha própria história.

Sinto ser os balões de gás que perdemos nos parquinhos aos oito,
A lembrança do chá com chocolate que minha avó tomava,
O embaço da prataria do século passado...
Os livros guardados no sótão desde a adolescência.

Mentiram pra gente sobre os cinqüenta anos depois da década de cinqüenta,
Trabalhamos mais que nos últimos cinqüenta,
Mas nem com minha família...
E nos dizem que estamos perdendo tempo.

Vejo o tempo passando pela janela tão veloz,
“Uns dias chove, outros dias faz-se sol”,
Os prédios crescem para que no fim...
Ainda cresçam sem saber que é o fim.

Meu corpo reclama e acho que estou cansado,
Embora dormir não seja uma opção,
Preciso ter fé no dia.
Preciso de uma linda aurora.

STORTO... 08-06-2011

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Tudo Por Causa de Uma Dúvida...

O Pensador de Auguste Rodin - A representação de Dante em frente dos Portões do Inferno 


Alguém disse: “Nem sempre as euforias da vidas são positivas!”
Quem disse tamanho absurdo?

Quero a taquicardia dos momentos inesperados,
Quero o frio na barriga e o medo que dá subir novamente em um palco.
Quero a confusão dos pensamentos consecutivos e incessantes,
Quero as decisões que existem somente para explicar o que eu não deveria ter feito, mas que faziam tanto sentido,
Quero duvidas que enfeiticem o coração.
Quero a viagem de fim de semana para aquele lugar sem muito sentido inicial,
Quero a frase no papel de bala,
Quero a infinidade que é ser feliz novamente,
Quero a tristeza da distancia e felicidade do encontro,
Quero as reflexões que me fazem tão vivo!

Quero o doce e o amargo,
Quero café na cama,
Quero contas pra pagar,
Quero os fatos e as vidas,
Quero viver e viver,
Quero o que for mais importante e mais desinteressante,
Quero ser e ser e ser...

Quero a harmonia da 9º de Beethoven, a beleza das minhas pequeninas a serenidade de meu pai e a felicidade do mundo. Só isso.

STORTO... 02-06-2011

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Saber de você


Saber de você é uma tristeza estranha, misto de sofrimento e dor.
Eu disse:
“Não mais me entorpecerei, nas ludibries notas do amor...”
...
Como se fosse fácil entender, querer que fosse,
Como mármore frio, como tarde de praia deserta e chuvosa.

Não tenho a mão que afaga nem a faca que corta,
Mas sinto todos esses embustes e troco a certeza pela possibilidade.
Será a seriedade dos dias tristes a certeza que preciso?
Será o trapézio dos apaixonados que as afasta de mim?
E é justamente sem eles que me recuso a viver.

Porque o amor não tem rima nem volta,
Como a palavra lançada que tanto encanta como revolta,
É como estar de cabeça para baixo, de mãos ao ar, de olhos abertos,
É como se ver caindo e nem ligar, na certeza que nada é mais importante,
Nada é mais que a amada, nem a dor, nem tudo...
Nem tudo.
Nem nada.

STORTO... 16-08-2010

terça-feira, 24 de maio de 2011

Eu e o outro cara que sabia voar


      Existe esse cara peculiar. Ele, simplesmente sabe voar. Não como super-homem, justificado por teorias absurdas envolvendo as cores de sóis ou fragmentos verdes de pura besteira. Não, caros leitores, esse cara tem a “técnica”.
      Fica complicado explicar algo tão envolvente e surpreendentemente simples sem o mínimo de contextualização. Voltaremos ao ano de 1986. Pule uma linha, faz favor.
      Elucubração nº 1: Os sonhos lúcidos são os que podem constrangê-lo pela manhã.

      Em 1986, Chernobyl bum! Falcão (o do futebol) tinha cabelo, Master of Puppets foi parido e Top Gun fez sua mãe chorar. Não porque o filme era uau! Que Titanic dos anos 80! O fato é que nenhum marido era páreo na época para Tom Cruise e Ray Ban juntos. Bom, esqueça o cara que aprisiona a família em nome da cientologia. Nesse fatídico ano, o outro cara, o desta dimensão, se fodeu pela primeira vez.
      Hum! Tinha esquecido de mencionar esse detalhe, né? Pois, bem. Vai fazer sentido. E meu relato incorpora palavrões eventuais. Nada exagerado.  Um putaqueopariuzinho de nada de vez em quando. Os palavrões são uma forma riquíssima de empobrecer um texto ou proporcionar síntese ao extremo. Prefiro pensar que xingar é bom para ser enfático.
      Passava na TV um episódio de Liga da Justiça. O cara daqui, que chamaremos de Pedro Malasartes ou Pedro, se preferir, amarrou uma frauda no pescoço e sentiu esse impulso. Um élan na época lógico. “Ele tem cabelo preto, eu também. Ele usa cueca sobre a calça, eu só cueca, ele tem olhos azuis e eu gosto de Alf, o E.Teimoso. Logo, eu também posso voar”. Pedro tinha uns seis anos e pulou de um muro relativamente alto rumo a fratura da mandíbula. Seu primeiro e último vôo.
      Elucubração 2: Dios é divertido. As escrituras dizem que crendo, alguém pode fazer peripécias dignas de Chriss Angel. Uma criança crê piamente em absurdos que pode realizar, mas nenhuma anda sobre as águas quando se atira numa piscina funda ou voa quando deseja. Rái ai.

      Em outra dimensão, o moleque usava botas ortopédicas. Eu sei, chato para caramba, não? Errado. As botas foram indicadas para melhorar o desempenho das corridas. Esse cara que chamaremos de João tinha que pegar impulso antes de alçar vôo. E aos seis, já passava da hora de começar a ir para escola planando.

CONTINUA... Eu acho.

LOPES - 01-12-2010

Refração da vida



Será o medo o arquiteto de todas as coisas?
Será por ele o movimento e dele a estagnação?
Será o início do processo e o meio por não terminá-lo?
Será assim?

Será que todas as músicas tristes falam dele no fim?
Será que porquês será sempre seu veículo?
Será minha roupa suja de tormento a estatização dele?
E por fim?

Será o incremento da vida ou o caminho para a morte?
Será a dor ainda não sentida ou a vida ainda não vivida?
Será o salto da janela a melhor saída?
Que saída?

Será “o bom, o justo e o melhor do mundo?”
Será bom tê-lo por perto e nele forças para não o ser?
Será justo vivê-lo e em duras palavras podê-lo ter?
E como seria o melhor do mundo?

Será medo ou apatia?
Será infinita verdade?
Será isso?
Será?

Xavier
Aos vinte e quatro dias do mês de maio do ano de Nosso Senhor.