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Não sei se alguma vez lhe contei o que observo em determinados escritos. Às vezes escrevemos muito a nosso respeito, mas do que pensamos, de um modo bem subjetivo. Seu livro está ficando ótimo. Claro que digo isto sem intenção de criticar. Não há espaço para críticas em nada que você escreve. "Os pensamentos de certos homens, mesmo os mais sombrios, dispensam comentários. Então eu só ouço..." - ou leio. É admirável o quanto você é verdadeiro - ou habilidoso em disfarçar o que sente. Será que existe um modo de cauterizar uma ferida aberta por um sentimento não correspondido? Você acredita que a indiferença é a resposta? Eu só tenho dúvidas. Quando escrevemos registramos derrotas e vitórias e revisamos nossas atitudes. Revemos nossos conceitos e valores. A cada ano, perco minhas certezas... decidi seguir um provérbio oriental: "Não há que ser rígido, antes seja flexível" Vou deixar tudo em aberto. "Talvez viver seja simplesmente isso, viver..." Eu queria escrever mais algumas coisas, mas farei isto numa ocasião e local apropriados. LOPES - um amigo

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Devastação da Alma (ou Como as Pinturas de Goya)


A estrada estava escura. Eram cinco da manhã. O vento estava forte. Cinzas caíam como chuva, e já não sabíamos quando veríamos o sol novamente. Alguns pinheiros que pareciam arrancados pela raiz atrapalhavam a caminhada. Tudo era muito árido. A esquerda da estrada via-se uma cerca. Dentro uma velha arvore que poderia nos contar a existência de dias mais felizes por esses caminhos, mas com suas folhas escrevia apenas velhas concepções que já não serviam mais.
Longe vimos um lago raso. A planície morta poderia ser vista pelos filmes de guerra do século XX, e ruínas, muitas ruínas.
Diziam ser a tristeza que não existia em tempos de glória. Quando tudo era a presença de trigal e margaridas. Na velha arvore havia um balanço para as crianças e o caminho percorrido por famílias contentes na presença dos seus.
Hoje habitam seres do submundo. Criaturas perdidas pelo tempo na cultura nórdica. As ruínas remontam construções imponentes, que já não brilham mais nem no sonho dos que por ali passaram.
Entramos na maior delas. Portas reforçadas foram arrancadas com muita dificuldade. Algumas bacias viradas. A mesa quebrada. Buracos no telhado de madeira e a inquietação estranha de estarmos sendo observados.
Continuamos entrando e um pálido raio nos chamou a atenção no fim do corredor. Piscando... piscando...
Ao aproximarmos vimos uma flor, que brilhava suspensa no ar. Irradiando seu parco brilho incessantemente. Percebemos que se tratava da presença cardíaca de todos que por ali passaram, e indistintamente deixaram um pedacinho de si, para todos.
Sem que percebêssemos, fomos tragados. Minha garganta amargava. Meus olhos turvaram. Senti as pernas estremecerem e o chão me faltou aos pés. Arrastei-me para sair dali sem entender por onde aquelas almas passariam em seu caminho de volta.
Algumas lendas rezam que foram aprisionados pelos exércitos da indiferença e da solidão em guerras atrozes, frias e escuras. Um velho cego, a beira da estrada, com uma cuia de esmolas, falava repetidamente: “O problema é seu! O problema é seu!”. Dizem ter conseguido escapar de lá em um momento de sentimentalismo involuntário, e que seu atual estado se deu pelo conflito da permanência ou não, dentro da flor.

Algum tempo depois li em um livro, envelhecido pelos anos, que isso jamais acabaria. Lugares assim são o resultado das pessoas que ali vivem, e por isso mesmo podem acontecer em qualquer mente. O livro também continha um encantamento que, se repetido diariamente, quebraria a maldição: “Jamais esqueças: Nunca viveremos sós!”


Lord Leafar 506 a.c.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Caminhando para o Amor


“O amor é filme...
Eu sei pelo cheiro de menta e pipoca que dá quando a gente ama.
Eu sei por que eu sei muito bem como a cor da manhã fica...”
Cordel do Fogo Encantado

A Percepção

Da minha janela vejo paisagens diferentes. Que se modificam com a certeza de que o mundo pode ser mais e feliz. É nisso que penso toda vez que olho longe... esperando você chegar.
Fico imaginando o que sinto. Em uma comunhão de sentimentos que são tão complexos quanto nossa própria relação. Hoje mais serena. Mais feliz.

A Epígrafe

Ontem fiquei em casa me lembrando de linhas mau traçadas por mãos que ainda não conheciam alguns aprendizados da vida. Quando só nos lembrávamos de idas e vindas para a escola e das quedas de bicicleta. Quando jogávamos vôlei na rua de casa, ou esperávamos chuva de estrelas cadentes.

O Início

Em algum momento da estrada nossos caminhos turvados pelo mundo foram dispersos. Em algum momento fomos tragados por certas certezas que de certo ficaram para trás. Em algum momento a vida liquefez com palidez a presença de nossas faces... e fomos distantes.
Tempos estranhos.
Tinha uma vaga lembrança do que eu era, e uma ainda mais distante do que poderia ser. Vivi coisas que jamais imaginaria e algumas que ainda não acredito...

Nos encontramos em situação evidentemente normal, e parecíamos agora como antes. Mas não como antes. Éramos agora eu e você. Como a água e o óleo que não se misturam, mas não se separam. Continuam ali, juntos pela ação da gravidade. Eternos confluentes. Eternamente lado a lado.
Brotamos à presença do orvalho. E fomos vivos novamente. Felizes, altivos e alegres!
Tivemos nossas rusgas quase sempre pela desesperança de nossas próprias convicções, ou pela extrapolação delas próprias. E mesmo à distância, nos tragamos, nos atraímos e amamo-nos distantes.

O Fim

Não há. Seremos como filmes de arte. Jamais entendidos pelos que querem fáceis explicações para a vida. Para os que pretendem apenas dar risada das paradas, sem apreciar a viagem. Seremos a beleza dos fins de tarde avermelhados ao som de acordes em guitarras blues. A serenidade das manhãs de domingo na perfeição de um sol esplendoroso. A certeza da felicidade no sorriso das crianças e a fé no olhar da caridade. As aventuras de beira de estrada em campos floridos e a responsabilidades que sempre nos empregamos.
Felizes assim por termos um ao outro, como sempre tivemos, quando percebermos estaremos sentados à beira do lago, descalços, ombro a ombro, contemplando o entardecer enquanto a cena escurece e os créditos sobem.

Para minha Amada Imortal,

STORTO... 12-07-11