A estrada estava escura. Eram cinco da manhã. O vento estava forte. Cinzas caíam como chuva, e já não sabíamos quando veríamos o sol novamente. Alguns pinheiros que pareciam arrancados pela raiz atrapalhavam a caminhada. Tudo era muito árido. A esquerda da estrada via-se uma cerca. Dentro uma velha arvore que poderia nos contar a existência de dias mais felizes por esses caminhos, mas com suas folhas escrevia apenas velhas concepções que já não serviam mais.
Longe vimos um lago raso. A planície morta poderia ser vista pelos filmes de guerra do século XX, e ruínas, muitas ruínas.
Diziam ser a tristeza que não existia em tempos de glória. Quando tudo era a presença de trigal e margaridas. Na velha arvore havia um balanço para as crianças e o caminho percorrido por famílias contentes na presença dos seus.
Hoje habitam seres do submundo. Criaturas perdidas pelo tempo na cultura nórdica. As ruínas remontam construções imponentes, que já não brilham mais nem no sonho dos que por ali passaram.
Entramos na maior delas. Portas reforçadas foram arrancadas com muita dificuldade. Algumas bacias viradas. A mesa quebrada. Buracos no telhado de madeira e a inquietação estranha de estarmos sendo observados.
Continuamos entrando e um pálido raio nos chamou a atenção no fim do corredor. Piscando... piscando...
Ao aproximarmos vimos uma flor, que brilhava suspensa no ar. Irradiando seu parco brilho incessantemente. Percebemos que se tratava da presença cardíaca de todos que por ali passaram, e indistintamente deixaram um pedacinho de si, para todos.
Sem que percebêssemos, fomos tragados. Minha garganta amargava. Meus olhos turvaram. Senti as pernas estremecerem e o chão me faltou aos pés. Arrastei-me para sair dali sem entender por onde aquelas almas passariam em seu caminho de volta.
Algumas lendas rezam que foram aprisionados pelos exércitos da indiferença e da solidão em guerras atrozes, frias e escuras. Um velho cego, a beira da estrada, com uma cuia de esmolas, falava repetidamente: “O problema é seu! O problema é seu!”. Dizem ter conseguido escapar de lá em um momento de sentimentalismo involuntário, e que seu atual estado se deu pelo conflito da permanência ou não, dentro da flor.
Algum tempo depois li em um livro, envelhecido pelos anos, que isso jamais acabaria. Lugares assim são o resultado das pessoas que ali vivem, e por isso mesmo podem acontecer em qualquer mente. O livro também continha um encantamento que, se repetido diariamente, quebraria a maldição: “Jamais esqueças: Nunca viveremos sós!”
Lord Leafar 506 a .c.