Quem sou eu

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Não sei se alguma vez lhe contei o que observo em determinados escritos. Às vezes escrevemos muito a nosso respeito, mas do que pensamos, de um modo bem subjetivo. Seu livro está ficando ótimo. Claro que digo isto sem intenção de criticar. Não há espaço para críticas em nada que você escreve. "Os pensamentos de certos homens, mesmo os mais sombrios, dispensam comentários. Então eu só ouço..." - ou leio. É admirável o quanto você é verdadeiro - ou habilidoso em disfarçar o que sente. Será que existe um modo de cauterizar uma ferida aberta por um sentimento não correspondido? Você acredita que a indiferença é a resposta? Eu só tenho dúvidas. Quando escrevemos registramos derrotas e vitórias e revisamos nossas atitudes. Revemos nossos conceitos e valores. A cada ano, perco minhas certezas... decidi seguir um provérbio oriental: "Não há que ser rígido, antes seja flexível" Vou deixar tudo em aberto. "Talvez viver seja simplesmente isso, viver..." Eu queria escrever mais algumas coisas, mas farei isto numa ocasião e local apropriados. LOPES - um amigo

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Um jeito novo (thought on The Wasp, in Morrison's voice)


Em dias assim quando o cinza predomina
A morte é palpável. “Estamos morrendo, menina!”
Não precisa chorar. Só precisa entender que é nossa sina.
Até o momento não estamos nos entendendo. “Termina?”

Uma segunda tentativa não vai nos machucar [Ou vai?]
Qual a melhor razão para se afastar? [Você me trai]
Com angústias e provocações. Disputas, sermões.
Te devolvo a paz sem palavrões. Domínio total das emoções.

Nunca choro em finais, o que não significa que não choro jamais.
Sentado na grama vejo fotos de lagos congelados nos jornais locais.
Aprisiono as principais imagens de nosso passado num muro
E recupero o fôlego para ao levantar distinguir o passado do futuro.

LOPES - 26-06-11

Sala 102 - Uma pequena homenagem a Kafka




“Dois e dois são quatro. Quatro mais quatro são oito. Oito mais oito... oito... mais...”
“Deeee-zzzzeees...”
“Dezesseis!!! Dezesseis!!!”
“Muito bem! Parabéns, meu querido! Merece um beijo!”
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Minhas memórias da infância são idéias fixas, doutor. Não me incomodam nem despertam saudades. Apenas insistem em não serem esquecidas. Não constituem nenhum trauma. São persistentes e sem consistência. O que me irrita mesmo é exatamente isto: Não significam nada! Só me lembro destas besteiras: apago velas de bolos confeitados, brinco com minha bicicleta muito sorridente, passeios aos domingos... O estudo da minha infância é inútil para determinar a causa do meu medo.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Vamos com calma.Pode deixar os diagnósticos comigo. Chegamos a sua ducentésima septuagésima sexta consulta. Quanto ao que é importante... Isto eu decido.
“Eu sei o que você sente, Sr. Samsa. Qualquer leigo que tivesse tempo para te observar por dois minutos perceberia. Sua face traz o retrato da depressão. E a da pior estirpe. A que não finda e permite que o indivíduo sobreviva. Pior, que venha a mim, semana após semana... Por anos... Dezesseis longos, looongos anos”.
Contam-se catorze segundos de incômodo silêncio.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Você já teve namorada?
<!--[if !supportLists]-->-     <!--[endif]-->Minha história particular não se enquadra nesta consulta, Sr. Samsa.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Eu sei, doutor. Mas eu não consigo me sentir a vontade falando da minha vida com um boneco que nem se parece com um ser humano.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Como eu sou, Sr. Samsa?
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Hã?!?
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Descreva-me.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Você é feito de plástico e tem olhos verdes. Olhos de vidro, creio. Pouco cabelo, mas muito bem alinhado. Nariz afilado como deve ter um aristocrata inglês. Suas mãos longas, cheias de dedos finos e macios possuem uma postura perscrutadora. Como se estivessem sempre dispostas executar um noturno. Sem piano.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->É assim que eu sou, Sr. Samsa?
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Isto é você.
“Delírio, devaneio, divino. Estranho, toda vez que as consultas caem no óbvio eu fico brincando com aliterações... Samsa abre a boca e sua voz atrasa meu relógio segundo após segundo. Dependendo dele nunca sairemos dessa sala. O maldito persiste como um inseto. Repugnante como uma barata!”.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Até as baratas morrem. Milhões de anos evoluindo. A carapaça mais forte e maleável, algumas voam, mesmo assim morrem. Uma sandália descomplica tudo.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Isto é terrível. – suspende as pernas e põe os pés na poltrona. Abraça-as e apoia o queixo nos joelhos. – conte mais.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->As baratas podem viver algum tempo sem a cabeça. São dotadas de sistemas nervosos independentes – encara Gregor – o nosso sistema nervoso é centralizado, difer...
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->OK! Eu entendi esta parte – interrompe.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Elas só morrem quando a cabeça é decepada devido à fome. Sem a cabeça não há como ingerir os alimentos.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Isto é lógico.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Fora isso, temos a figura da barata sem cabeça rondando a cozinha, resistindo e sobrevivendo o quanto pode. Um ser irracional banalizando a existência. Sem quaisquer chances de êxito. Morrerá certamente, mas constrange o mundo com sua agonia. Causando repugnância a quem tem o desprazer de observá-la.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->A natureza tenta encontrar um meio.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Mas ela morre.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Três sistemas nervosos, o Dr. disse. Parece que não teria como morrer.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Viu? Para morrer-se, sempre dá-se um jeito.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Eu queria entender o fundamento disto.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Todo esse devaneio só tinha como objetivo aclarar sua mente para um fato indubitável e que por mais que hesitemos, o senhor tem que reconhecer.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->O que?
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Você não tem talento para existir, Sr. Samsa.
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Existir requer talento?
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Para qualquer ser humano saudável é reconhecível o indivíduo que nem atrapalha nem contribui para preservação da espécie. São piores que os párias. Passam a existência em branco. Nada criam, nada corrompem e a nada reagem. Nada são! Um total desperdício de DNA! O Sr. compreende, Sr. Samsa?
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->O senhor está diferente doutor – ri sem graça – falei algo que te aborreceu?
<!--[if !supportLists]-->-       <!--[endif]-->Eu tenho uma pílula em cada mão. Uma vermelha e uma azul, Sr. Samsa. E você fará uma maldita escolha hoje. O mundo não se importa com suas queixas vazias. Sua insatisfação perene. Essa podridão imutável de idéias deformadas!!! A vermelha livrará o mundo de sua repugnância e a azul o fará mudar de atitude. Escolha uma pílula SR. SAMSA!!!
“Hum... Ele escolheu a azul. Peculiar. Apostaria na vermelha. Ambas as cápsulas continham veneno de rato, mas... azul? O Sr. me surpreendeu afinal Sr, Samsa. Pena. Tantas oportunidades...”.
Convulsões e sangue no carpete. Ninguém sentirá falta deste paciente. Apenas os piolhos choram o banquete findo. Doutor Fritz vai até o café do outro lado do Edifício Tereza Arruda. Pede um expresso por estar sem criatividade e sorri. 

LOPES - 26-06-11

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Uns dias assim

 
Estou tão estranho,
Pareço não estar vivendo,
Parecem passar por mim e não posso ver, pegar, sentir...
Sinto ser passageiro de minha própria história.

Sinto ser os balões de gás que perdemos nos parquinhos aos oito,
A lembrança do chá com chocolate que minha avó tomava,
O embaço da prataria do século passado...
Os livros guardados no sótão desde a adolescência.

Mentiram pra gente sobre os cinqüenta anos depois da década de cinqüenta,
Trabalhamos mais que nos últimos cinqüenta,
Mas nem com minha família...
E nos dizem que estamos perdendo tempo.

Vejo o tempo passando pela janela tão veloz,
“Uns dias chove, outros dias faz-se sol”,
Os prédios crescem para que no fim...
Ainda cresçam sem saber que é o fim.

Meu corpo reclama e acho que estou cansado,
Embora dormir não seja uma opção,
Preciso ter fé no dia.
Preciso de uma linda aurora.

STORTO... 08-06-2011

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Tudo Por Causa de Uma Dúvida...

O Pensador de Auguste Rodin - A representação de Dante em frente dos Portões do Inferno 


Alguém disse: “Nem sempre as euforias da vidas são positivas!”
Quem disse tamanho absurdo?

Quero a taquicardia dos momentos inesperados,
Quero o frio na barriga e o medo que dá subir novamente em um palco.
Quero a confusão dos pensamentos consecutivos e incessantes,
Quero as decisões que existem somente para explicar o que eu não deveria ter feito, mas que faziam tanto sentido,
Quero duvidas que enfeiticem o coração.
Quero a viagem de fim de semana para aquele lugar sem muito sentido inicial,
Quero a frase no papel de bala,
Quero a infinidade que é ser feliz novamente,
Quero a tristeza da distancia e felicidade do encontro,
Quero as reflexões que me fazem tão vivo!

Quero o doce e o amargo,
Quero café na cama,
Quero contas pra pagar,
Quero os fatos e as vidas,
Quero viver e viver,
Quero o que for mais importante e mais desinteressante,
Quero ser e ser e ser...

Quero a harmonia da 9º de Beethoven, a beleza das minhas pequeninas a serenidade de meu pai e a felicidade do mundo. Só isso.

STORTO... 02-06-2011