La Mariee - Chagall
Queria falar sobre as coisas que não digo. Nessa roda-viva que constrói a história de pessoas que nem percebem fazer parte desse teatro triste, as engrenagens nem sempre estão em sentido horário.
Tive que puir meus joelhos nos cascalhos da vida. Em amizades frias e destinos que não se cruzaram.
A tristeza da velhice que se aproxima troco pela reflexão da sabedoria de cadernos em branco ainda abertos pelo vento da tarde. Tardes de outono e inverno. Serão tempos difíceis esses.
Serão dias frios e você não vai estar lá, num lugar que é só meu. No lugar que é todo nosso ainda não tem a marca da sua postura. Você nunca sentou por lá. Tem sempre uma xícara de chá em cima da mesa, para o dia em que você me descobrir. Odiaria não poder lhe aconchegar o paladar, enquanto discutimos sobre alguns poetas.
De todas as tralhas que você trará consigo, para se juntar a tantas que já tenho, terei brilho nos olhos para nutrir a alegria de nossa cumplicidade e amor para rechearmos nossas segundas-feiras.
Vestirei minha melhor domingueira, ou qualquer coisa, já que não fará tanta diferença. Estaremos nos olhando, tão atentamente, que o transporte para essa realidade em que só existe eu e você será inevitável.
Chegará o dia em que teremos um fim de tarde sem ter que trabalhar depois das sete. Um bom vinho ao som de Chico Buarque, Al Green, Joni Michell e todas as nossas possibilidades entre nossos olhos sob um céu azul escuro de Chagall e bodes tocando violino. Afinal de contas, “felicidade não é felicidade sem um bode tocando violino”.
STORTO... 13-04-2012