É mais uma bela manhã na floresta. Como notas de uma radiante sinfonia os animais, as plantas e a vida se organizam como peças de um mosaico de beleza e cor.
Nas entrelinhas da esperança um belo pássaro (um Greater, do gênero Paradisaea) espera o momento em que a vida lhe presenteie com a felicidade de conhecer uma parceira especial.
“A vida é meio estranha...” ele pensava. Por decisão da genética a natureza lhe contemplara com uma beleza rara, mas a todas as fêmeas uma coloração parda e sem vida. Quis a natureza que em sua raça ele competisse pelas fêmeas utilizando sua beleza, o que ele veementemente preferia não comentar em suas rodas de amigos, quando se reuniam para discutir onde se conseguia as melhores minhocas da região.
Certo dia, já esquecido de como seria essa busca, ele teve uma grata surpresa. Aconteceu que meio por força do destino, ou meio por pré-disposição dos dois, se encontraram. Na verdade tiveram a oportunidade de trocar algumas partituras de canto, já que ele já a conhecia, por vê-la descansar pela floresta. Nessa pequena chance que tiveram perceberam que, talvez, existisse mais de onde saíram àquelas notas. Se interessaram, se procuraram, se conluiam...
Em um terceiro encontro, esse sim, por eles provocado, rapidamente ele teve uma certeza. Na verdade não existia beleza em sua plumagem, assim como não existia uma escuridão na dela. Por trás de toda aquela plumagem escura e parda existia uma criatura de brilho especial, radiante. Única em seu espécime.
Ele pôde observar pensamentos que convergiam para pontos semelhantes, e que ao contrário do que ele tinha encontrado até agora, em outras de seu espécime não era mera futilidade, para ela, pensar de verdade na vida. Pensar como seria bom, se tudo aquilo, vivido ali, pudesse ser vivido para sempre.
Ele até hoje vive pela floresta, tentando encontrá-la. Diz que não sabe por onde anda essa bela princesa de dias felizes, se perderam por forças que ele também prefere não comentar. Mas tem certeza que ela vive escondida, mesmo que por trás de plumas pardas, mesmo que dentro de lembranças sofríveis.
Ele conta uma lenda de que ainda vão se reencontrar, mesmo que em outra vida (embora ele sinta a urgências dos dias), mesmo quando não forem mais pássaros.
Lord Leafar 506 a.c.